DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DO ESPETÁCULO


 
 
Boa noite a todos!

É  um prazer estar aqui convosco para vos apresentarmos as duas peças que se seguem. A turma de 10º ano conta este ano com 34 alunos o que deu origem a que se criassem duas oficinas de teatro, cada uma com 17 alunos. Um grupo adaptou ao género dramático o conto de Vergílio Ferreira, «A Palavra Mágica» e o outro grupo atualizou a peça de Gil Vicente, a «Farsa de Inês Pereira». Após o trabalho de redação dos textos, procedeu-se à distribuição dos papéis e à encenação de cada uma das peças. Em ambas as obras temos a sociedade portuguesa em palco, com alguns vícios que nos podem fazer rir, mas que em última instância pretendem corrigir-nos. O tempo passa, mas os 400 anos que separam os autores não os impediram de perseguir o mesmo alvo: através do riso, corrijam-se os vícios do ser humano!

Começaremos pela obra «A Palavra Mágica» que nos chega do século XX pela mão de Vergílio Ferreira cujo centenário do nascimento se celebrou na semana passada. A história decorre numa pequena aldeia, no interior de Portugal. Uma discussão vai degenerar e por causa da ignorância do povo, o adjetivo 'inócuo' que significa 'inofensivo', vai ganhar contornos pouco simpáticos e adquirir conotações pejorativas, desconhecidas do dicionário de língua portuguesa. Quase toda a gente arranja a sua própria definição tornando a palavra 'inócuo' um terrível insulto que chega a ser levado a tribunal.

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Se na primeira peça é o desconhecimento do Português que está em causa, alertando-nos para a importância de bem dominarmos a nossa língua e de não usarmos as palavras sem conhecermos o seu real significado, já na segunda peça recuamos ao século XVI e à época dos Descobrimentos. Temos nela um retrato da sociedade portuguesa da altura, entre outros aspetos materialista e falsa. 

A «Farsa de Inês Pereira» foi representada pela primeira vez na cidade de Tomar, em 1523, ao rei D. João III, no Convento de Cristo. Havia quem por essa altura duvidasse do talento do seu autor, Gil Vicente e por isso lhe foi lançado o desafio de escrever um texto que comprovasse o provérbio «Mais quero asno que me carregue do que cavalo que me derrube". Na base do texto vicentino temos Inês Pereira, uma jovem que aspira casar com um rapaz distinto, apesar da mãe a aconselhar a casar com alguém que tenha dinheiro. O primeiro casamento da jovem vai revelar-se um fiasco pois o rapaz distinto tranca Inês em casa, antes de ir para a guerra no norte de África onde acaba por morrer. Face a esta primeira experiência matrimonial fracassada, Inês aprende a lição e, como interesseira e preguiçosa que era, casa segunda vez com um jovem tolo, dono de uma herança, capaz de a sustentar mas não de a dominar. Se o primeiro marido foi o cavalo do provérbio que derrubou Inês, o segundo surge como o asno que a carrega fazendo-lhe todas as vontades, inclusivé levando-a a encontrar-se com o seu amante Ermitão no final da peça.

Toda a história dá que pensar: ao que pode levar um casamento sem amor? Ao que pode levar priveligiar a aparência em detrimento da essência? 

(texto proposto e gravado por Alexandra Gonçalves)

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